A verdadeira religião
O povo de Deus exilado na babilônia ouvia com frequência a pergunta irônica: “ Onde está Deus de vocês? (Sl 115,2). A partir daí cresce a consciência de que Deus se revela e se mostra próximo mediante uma legislação justa. Praticando-a, o povo se torna grande, com leis sábias e inteligentes (I leitura).
Jesus é o que anula as tradições humanas que distorcem a vontade divina. Anulando os preceitos humanos, aponta para novo tipo de moralidade, na qual a impureza que afasta as pessoas de Deus não depende de condições externas, mas das opções de vida de cada um. Relacionar-se com Deus não é fazer uma série de ritos de purificação, e sim fazer opção profunda pelo seu projeto (evangelho)
As comunidades cristãs no final do I século sentiam a tentação de fazer da religião um relacionamento com Deus separado dos compromissos de solidariedade e justiça. A carta de Tiago vem iluminar essa questão (II leitura)
Deuteronômio 4,1-2.6-8 : Uma legislação justa que contagie o mundo todo
O Deuteronômio é um conjunto de estatutos e normas que visam levar a uma prática de vida conforme a Aliança com Javé, dentro da terra prometida. Trata-se de uma nova Constituição. Com ela, Israel viverá segundo a sabedoria e a justiça, isto é, segundo o projeto de Javé. Não há nenhum legalismo, pois entre Javé e seu povo existe uma relação de parceiros: Javé responde todas as vezes que é invocado. Javé é um Deus que não fica preso a leis, mas está sempre aberto para responder às novas situações do seu povo.
Marcos 7,1-8.14-15.21-23 : A nova moralidade trazida por Jesus
: Jesus desmascara o que está por trás de certas práticas apresentadas como religiosas. E toma um exemplo concreto referente ao quarto mandamento. Corbã era o voto, pelo qual uma pessoa consagrava a Deus os próprios bens, tornando-os intocáveis e reservados ao tesouro do Templo. Aparentemente Deus era louvado, mas na realidade os pais ficavam privados de sustento necessário, enquanto o Templo e os sacerdotes ficavam ainda mais ricos.
14-23: O que vem de fora não torna o homem pecador, e sim o que sai do coração, isto é, da consciência humana, que cria os projetos e dá uma direção às coisas. Jesus anuncia uma nova forma de moralidade, onde os homens podem relacionar-se entre si na liberdade e na justiça. Com isso, aboliu a lei sobre a pureza e impureza (Lv 11), cuja interpretação era o fundamento de uma sociedade injusta, baseada em tabus que criavam e solidificavam diferenças entre as pessoas, gerando privilegiados e marginalizados, opressores e oprimidos.
Tiago 1,17-18.21.27: A verdadeira religião
Deus é autor apenas do bem e daquilo que leva ao bem. Jamais conduzirá alguém à morte, pois o seu projeto é dar vida, e vida em plenitude. O supremo bem realizado por Deus é gerar os homens para a vida nova, comunicada pelo Evangelho (= Palavra da verdade).
* 19-25: Tiago chama a atenção para a essência da vida cristã: ouvir a palavra do Evangelho e colocá-la em prática. A fé não se resume em afirmações que podem ser ouvidas e decoradas; ela é compromisso que leva a tomar atitudes concretas e cheias de consequências. Centrado no mandamento do amor, o Evangelho é a lei da liberdade, pois o amor não se restringe a exigir a obediência a uma lista de obrigações; ele é comportamento criativo, que sabe dar resposta libertadora e construtiva em qualquer situação.
* 26-27: Temos aqui um dos pontos centrais do Novo Testamento: o culto que se pede aos cristãos não se resume em cerimônias ou em saber fórmulas de cor. O verdadeiro culto é a entrega de si mesmo a Deus para viver a justiça na prática: não difamar o próximo (língua); socorrer e defender os pobres e marginalizados (órfão e viúva) não comprometer-se com a estrutura injusta da sociedade (corrupção do mundo).