Jesus e a morte da humanidade
O Brasil é um grande túmulo que devora as esperanças da maioria de seus habitantes. Muita gente tem razão de se queixar: “Nossos ossos estão secos, nossa esperança está desfeita. Para nós tudo está acabado”(I leitura). Nosso país está cheio de Lázaros, Martas e Marias, e o consolo que eles recebem são amarras sempre mais consistentes (evangelho). Isso porque uma minoria optou por viver segundo seus instintos egoístas (II leitura), gerando a cada dia uma sociedade sempre mais desigual e injusta .
Neste 5º Domingo da Quaresma, a liturgia garante-nos que o desígnio de Deus é a comunicação de uma vida que ultrapassa definitivamente a vida biológica: é a vida definitiva que supera a morte.
A esperança vem da Palavra de Deus. Ele nos tira dos túmulos e por seu Espírito nos faz reviver. Jesus nos mostrou que a morte não tem a última palavra. Mais ainda, ele nos ordena que desamarremos e deixemos caminhar todos os que estão sendo impedidos de viver, pois o Espírito que o animou a libertar os oprimidos e ressuscitar os mortos está presente em nós pelo Batismo.
Ezequiel 37,12-14 – Javé liberta seu povo da morte .
Na primeira leitura, Jahwéh oferece ao seu Povo exilado, desesperado e sem futuro (condenado à morte) uma vida nova. Essa vida vem pelo Espírito, que irá recriar o coração do Povo e inseri-lo numa dinâmica de obediência a Deus e de amor aos irmãos.
É um dos trechos mais conhecidos de Ezequiel. A palavra profética, tal como a palavra criadora (Gn 1), convoca o espírito para libertar e restaurar a vida do povo de Deus, que tinha sido dominado, destruído e exilado. À primeira vista, tudo parece morto e sem esperança. Essa morte, porém, só acontece de fato quando o povo se deixa alienar, conformando-se com uma visão fatalista, que o torna passivo diante de sua própria história. Contudo, tomando consciência de sua dignidade, o povo começa a se reunir e a se organizar. Ergue-se, então, como grande exército e se põe a lutar para construir nova sociedade e nova história.
João 11,1-45 – Jesus e a morte da humanidade.
O Evangelho garante-nos que Jesus veio realizar o desígnio de Deus e dar aos homens a vida definitiva. Ser “amigo” de Jesus e aderir à sua proposta (fazendo da vida uma entrega obediente ao Pai e um dom aos irmãos) é entrar na vida definitiva. Os crentes que vivem desse jeito experimentam a morte física; mas não estão mortos: vivem para sempre em Deus.
Numa comunidade marcada por relações de afeto e amor ativo, ninguém tem medo de perigo ou de se comprometer quando se trata de ajudar o irmão necessitado. O receio de enfrentar obstáculos nasce da falta de fé que não compreende a qualidade de vida que Jesus comunica. Jesus se apresenta como a ressurreição e a vida, mostrando que a morte é apenas uma necessidade física. Para a fé cristã a vida não é interrompida com a morte, mas caminha para a sua plenitude. A vida plena da ressurreição já está presente naqueles que pertencem à comunidade de Jesus. A morte é o resumo e o ponto máximo de todas as fraquezas humanas. O medo da morte acovarda o homem diante da opressão, e o impede de testemunhar. O medo fortalece o poder dos opressores. ibertando o homem desse medo, Jesus torna-o radicalmente livre e capaz de dar até o fim o testemunho da própria fé.
Romanos 8,8-11 – A vida no Espírito .
A segunda leitura lembra aos cristãos que, no dia do seu Baptismo, optaram por Cristo e pela vida nova que Ele veio oferecer. Convida-os, portanto, a ser coerentes com essa escolha, a fazerem as obras de Deus e a viverem “segundo o Espírito”.
A entrada do Espírito de Deus no homem, mediante Cristo, determina uma renovação pela qual o homem sente, pensa e age conforme a vontade de Deus. Em lugar da lei dos instintos egoístas, surge a «lei do Espírito que dá a vida». Trata-se de um novo dinamismo interior que, com a própria força de Deus, liberta o homem da tirânica «lei do pecado e da morte». Em lugar do pecado ou egoísmo, que determina o ser e ação do homem, existe agora o Espírito ou Amor; em lugar da morte, existe a vida. A unidade entre querer o bem e realizá-lo é recomposta. A situação desesperadora do homem é superada. Com isso, as relações sociais podem ser refeitas e a estrutura social injusta e opressora pode ser superada.
Para por em pratica :
1-A palavra meditada ao longo da semana.
Ao longo dos dias da semana anterior ao 5º Domingo da Quaresma, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.
2. Inclinação para o arrependimento:
Neste domingo sob o signo da Ressurreição e da Vida, eis uma sugestão para renovar o rito penitencial. Vamos reconhecer os nosso pecados diante de tantas fragilidades humanas que tem sido nos apresentadas por esta Pandemia , virado para a cruz, inclina-se profundamente, permanecer assim durante algum tempo, em profundo silêncio… Seguem-se algumas invocações penitenciais que podem ter como resposta: “Senhor, dai-nos a Vida!”
3. Renovar a profissão de fé:
Habitualmente, dizemos o Credo com um ar demasiado rotineiro e repetitivo… Como transmitir-lhe mais alegria e entusiasmo interior? Uma brevíssima introdução pode motivar a uma maior atenção à recitação do Credo. Pode-se ainda proclamar o Símbolo dos Apóstolos (dando o texto antecipadamente, pois não é sabido de cor). Pode-se também proclamar a fórmula do credo baptismal (dialogada)…
4. Bilhete de evangelho:
A vida é esperança. Estão vivos aqueles que esperam. Depois do momento do nosso nascimento, em que fomos criados, somos habitados pela esperança. Não cessamos de procurar, esperar, desejar. Procuramos os sinais de Deus? Esperamos a sua vinda? Desejamos a sua presença? Neste tempo da Quaresma, somos
convidados à conversão. A esperança opera uma mudança nos nossos comportamentos. Não nos contentemos com esperanças que nos podem decepcionar. Nós vivemos de esperança, porque Deus não pode decepcionar-nos. Porque o nosso Deus é um Deus que fala, somos chamados por Ele. A esperança faz-nos escutar os seus apelos e responder-lhes. Sejamos vivos. Sê-lo-emos se nós esperamos.