Natal do Senhor – Missa da noite – Ano B
Hoje nasceu um Salvador, que é o Messias , o Senhor
A liturgia desta noite fala-nos de um Deus que ama os homens; por isso, não os deixa perdidos e abandonados a percorrer caminhos de sofrimento e de morte, mas envia “um menino” para lhes apresentar uma proposta de vida e de liberdade. Esse menino será “a luz” para o povo que andava nas trevas.
A primeira leitura anuncia a chegada de “um menino”, da descendência de Davi, dom de Deus ao seu Povo; esse “menino” eliminará a guerra, o ódio, o sofrimento, a pandemia e inaugurará uma era de alegria, de felicidade e de paz sem fim.
O Evangelho apresenta a realização da promessa profética: Jesus, o “menino de Belém”, é o Deus que vem ao encontro dos homens para lhes oferecer – sobretudo aos pobres e marginalizados – a salvação. A proposta que Ele traz não será uma proposta que Deus quer impor pela força; mas será uma proposta que Deus oferece ao homem com ternura e amor.
A segunda leitura lembra-nos as razões pelas quais devemos viver uma vida cristã autêntica e comprometida: porque Deus nos ama verdadeiramente; porque este mundo não é a nossa morada permanente e os valores deste mundo são passageiros; porque, comprometidos e identificados com Cristo, devemos realizar as obras d’Ele.
Primeira leitura Isaias 9,1-6 – Uma luz nas trevas . O profeta prevê um chefe sábio, fiel a Deus, duradouro e pacífico; ele perpetuará a dinastia de Davi, estendendo o reinado deste até às regiões agora dominadas pela Assíria e organizando uma sociedade fundada no direito e na justiça. Mateus, reinterpretando este oráculo, o aplica à pessoa e ação de Jesus (Mt 4,13-16).
É Jesus, o “menino de Belém”, que dá sentido pleno a esta profecia messiânica de Isaías. Ele é “aquele que veio de Deus” para vencer as trevas e as sombras da morte que ocultavam a esperança e instaurar o mundo novo da justiça, da paz e da felicidade. O nascimento de Jesus que celebramos esta noite significa que, efetivamente, este “Reino” chegou e incarnou no meio dos homens. No entanto: ele é hoje uma realidade instituída, viva, atuante na história humana? Porquê?
- Acolher Jesus, celebrar o seu nascimento, é aceitar esse projeto de justiça e de paz que Ele veio trazer aos homens. Esforçamo-nos por tornar realidade o “Reino de Deus”? Como lidamos com a injustiça, a opressão, a guerra, a violência: com a indiferença de quem sente que não tem nada a ver com isso, ou com a inquietação de quem se sente responsável pela instauração do “Reino de Deus”?
- Em quê, ou em quem coloco eu a minha esperança e a minha segurança? Nos políticos que me prometem tudo e se servem da minha ingenuidade para fins próprios? No dinheiro que se desvaloriza e que não serve para comprar a paz do meu coração? Na situação sólida da minha empresa, que pode desfazer-se diante das próximas convulsões sociais ou durante a próxima crise energética? Isaías diz que só podemos confiar em Deus e nesse “menino” que Ele mandou ao nosso encontro, se quisermos encontrar a “luz” e a paz.
- Reparemos, ainda, no “jeito” de Deus: Ele não se serve da força e do poder para intervir na história e para mudar o mundo; mas é através de um “menino” – símbolo máximo da fragilidade e da dependência – que Deus propõe aos homens o seu projeto de salvação. Temos consciência de que é na simplicidade e na humildade que Deus age no mundo? E nós seguimos os passos de Deus e respeitamos a sua lógica quando queremos propor algo aos nossos irmãos?
Segunda leitura Tito 2,1-14 – Expressar a fé na vida . Estas normas não criticam o quadro social do tempo, mas representam o desejo de que as comunidades cristãs se tornem focos de justiça e dignidade. Há, porém, uma novidade tipicamente cristã: o amor. Os cristãos de todas as idades e condições devem mostrar, com a vida prática, que se converteram e vivem para Deus e para o irmão. A manifestação de Deus muda o modo de compreender e viver a vida. O cristão passa a viver voltado para a realização final, isto é, para a manifestação gloriosa de Jesus. O v. 14 testemunha a fé dos primeiros cristãos na divindade de Jesus.
- Temos consciência do amor de Deus e que a encarnação de Jesus é o sinal mais expressivo desse amor por nós? Sendo os destinatários de um tal amor, amamos Deus da mesma maneira? A nossa vida é uma resposta coerente ao amor de Deus – isto é, um compromisso autêntico com Deus e com os seus valores?
- A nossa civilização ocidental institucionalizou e sacralizou uma série de valores efémeros (dinheiro, poder, êxito profissional, “status” social, bens de consumo…) e montou uma máquina de publicidade eficaz para os apresentar como a chave da verdadeira felicidade. No entanto, com frequência esses valores estão em absoluta contradição com os valores do Evangelho… Aprendemos, com Jesus, a ter um olhar crítico sobre os valores que o mundo nos propõe e a confrontar, dia a dia, a nossa vida com os valores do Evangelho?
- É Cristo a nossa referência? É d’Ele que recebemos vida? O seu “jeito de ser¨; de viver (no amor, na entrega, no dom da vida) foi assumido na nossa vida de todos os dias e na nossa relação com os irmãos que nos rodeiam?
Evangelho – Lucas 2,1-14 : O nascimento de Jesus O recenseamento ordenado pelo imperador era instrumento de dominação, já que possibilitava saber quantas pessoas deviam pagar o tributo. Dentro dessa situação de dominação nasce Jesus, o Messias, que desde o primeiro instante de sua vida se identifica com os pobres. Os primeiros a receber a Boa Notícia (Evangelho) são os pobres e marginalizados, aqui representados pelos pastores. Com efeito, na sociedade da época, os pastores eram desprezados, porque não tinham possibilidade de cumprir todas as exigências da Lei. É para eles que nasceu o Salvador, o Messias e o Senhor. E são os primeiros a anunciar a sua chegada. Jesus é o Salvador, porque traz a libertação definitiva.
- O menino de Belém leva-nos a contemplar o incrível amor de um Deus que Se preocupa até ao extremo com a vida e a felicidade dos homens e que envia o próprio Filho ao mundo para apresentar aos homens um projeto de salvação/libertação. Nesse menino de Belém, Deus grita-nos a radicalidade do seu amor por nós.
- O presépio apresenta-nos a lógica de Deus que não é, tantas vezes, igual à lógica dos homens: a salvação de Deus não se manifesta nos encontros internacionais onde os donos do mundo decidem o destino dos homens, nem nos gabinetes ministeriais, nem nos conselhos de administração das multinacionais, nem nos salões onde se concentram as estrelas do jet-set, mas numa gruta de pastores onde brilha a fragilidade, a dependência, a ternura, a simplicidade de um bebé recém-nascido. Qual é a lógica com que abordamos o mundo: a lógica de Deus, ou a lógica dos homens?
- A presença libertadora de Jesus neste mundo é uma “boa notícia” que devia encher de felicidade os pobres, os débeis, os marginalizados e dizer-lhes que Deus os ama, que quer caminhar com eles e que quer oferecer-lhes a salvação. É essa proposta que nós, os seguidores de Jesus, passamos ao mundo? Nós, Igreja, não estaremos demasiado ocupados a discutir questões laterais, esquecendo o essencial – o anúncio libertador aos pobres?
- Jesus – o Jesus da justiça, do amor, da fraternidade e da paz – já nasceu, de forma efetiva, na vida de cada um de nós, nas nossas casas religiosas, nas nossas comunidades cristãs?