Sede santo porque o Senhor, vosso Deus, é santo
A liturgia do sétimo Domingo do Tempo Comum convida-nos à santidade, à perfeição. Sugere que o “caminho cristão” é um caminho nunca acabado, que exige de cada homem ou mulher, em cada dia, um compromisso sério e radical (feito de gestos concretos de amor e de partilha) com a dinâmica do “Reino”. Somos, assim, convidados a percorrer o nosso caminho de olhos postos nesse Deus santo que nos espera no final da viagem.
A primeira leitura destaca o mandamento “amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lv 19,17-18). Para Israel, somente é possível amar a Deus se há amor ao próximo. Mas, ao longo da história, houve uma tendência de interpretar esse mandamento em sentido restrito, reservado a prática do amor apenas para o compatriota. O evangelho afirma que Jesus interpretou o preceito do amor ao próximo em dimensões universais. Por motivo algum é lícito odiar o outro, filho do mesmo Pai celeste e alvo do mesmo amor paterno (Mt 5,45). O mundo julga ser loucura retribuir o ódio com o amor, o mal com o bem, as ofensas com o perdão. Mas, na segunda leitura, Paulo ensina que os cristãos não devem se preocupar quando o mundo os julga loucos, afinal “a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus” (1 Cor 3,19).
Levitico 19,1-18 Não ódio, mas amor –
A primeira leitura que nos é proposta apresenta um apelo veemente à santidade: viver na comunhão com o Deus santo, exige o ser santo. Na perspectiva do autor do nosso texto, a santidade passa também pelo amor ao próximo.
Lv 17-25 é uma coleção de leis bem antigas, chamada a “Lei da Santidade”. A ideologia desta Lei é que o povo de Javé deve ser santo porque ele o é também. É sempre a pessoa de Javé que fundamenta as exigências morais (por exemplo, o amor ao próximo e ao estrangeiro, 19, 18.36) e rituais (19,25). Portanto, a moral e o amor são baseados na imitação de Deus ”e sua santidade. – 19,2. Lv 11,44.
Matheus 5,38-48 – Pagar o mal pelo bem, amar os inimigos
Como na “Lei da Santidade” (Lv 17-26), também em Mt 5,17-48 a imitação de Deus na sua “perfeição” (=santidade) apresenta-se como regra fundamental. Só que Jesus dá a esta imitação um conteúdo mais radical: não só amor o próximo (Lv 19,18), mas também o inimigo. E outras coisas assim. A ajuda desinteresseira, o amor a quem não nos ama, são as provas de que amamos com mesmo amor gratuito de nosso Pai Celeste. 5, 38-42. Ex 21,24.
No Evangelho, Jesus continua a propor aos discípulos, de forma muito concreta, a sua Lei da santidade (no contexto do “sermão da montanha”). Hoje, Ele pede aos seus que aceitem inverter a lógica da violência e do ódio, pois esse “caminho” só gera egoísmo, sofrimento e morte; e pede-lhes, também, o amor que não marginaliza nem discrimina ninguém (nem mesmo os inimigos). É nesse caminho de santidade que se constrói o “Reino”.
1 Coríntios 3, 16- 23 – Não partidarismo, mas pertença completa a Cristo e Deus –
No começo de 1Cor 3, Paulo descreve como se constrói a Igreja – Templo de Deus. A partir de 3,16, tira as conclusões: a presença do Espírito de Deus torna santa a comunidade eclesial: abalá-la é demolir Deus! (3,17). Mas também, onde Deus está presente, não há lugar para endeusar homens, instaurar culto de personalidades. Em Cristo, a Igreja recebe a sabedoria de Deus, e torna-se realidade divina. Jó 5,13; Sl 94(93),11.
Paulo convida os cristãos de Corinto – e os cristãos de todos os tempos e lugares – a serem o lugar onde Deus reside e Se revela aos homens. Para que isso aconteça, eles devem renunciar definitivamente à “sabedoria do mundo” e devem optar pela “sabedoria de Deus” (que é dom da vida, amor gratuito e total).
Reflexão: Santidade é uma relação de amor. A santidade é criar relações de amor com todos, à semelhança de Deus. Justiça do Reino é amor aos inimigos. Nossa vida não pode repetir o mesmo ciclo da sociedade de vingança e violência. Entre nós não pode ser assim, mas devemos semear o amor, até mesmo aos nossos inimigos.