Discernimento e opção pelo Reino
A liturgia deste domingo convida-nos a refletir nas nossas prioridades, nos valores sobre os quais fundamentamos a nossa existência. Sugere, especialmente, que o cristão deve construir a sua vida sobre os valores propostos por Jesus.
O Reino é o resultado de duas profundas aspirações: de Deus e das pessoas. O desejo de Deus, tantas vezes expresso na Bíblia, é que a humanidade viva em harmonia e paz. O desejo das pessoas é ter vida em abundância, numa sociedade onde as relações humanos tragam a marca da justiça, fraternidade e bem comum. O que Deus quer é aquilo a que o ser humano aspira.
Contudo, a história da humanidade é frequentemente caótica porque não há discernimento e opção pela vida que o Reino quer comunicar. Constatamos, então, que o poder, a riqueza e os bens em geral servem para aumentar o caos, a dor e a morte. Como encontrar, de novo, o caminho da vida à qual todos aspiram e pela qual Jesus veio ao mundo, morreu e ressuscitou? Eis a proposta da Palavra de Deus para esse dia.
1 Reis 3,5.7-12: O poder a serviço do povo.
A primeira leitura apresenta-nos o exemplo de Salomão, rei de Israel. Ele é o protótipo do homem “sábio”, que consegue perceber e escolher o que é importante e que não se deixa seduzir e alienar por valores supérfluos.
O sonho de Salomão mostra que o grande anseio do povo é ter uma autoridade realmente capaz de discernir e realizar a justiça. Para isso, a principal tarefa da autoridade consiste em saber ouvir. É o requisito básico, não só para resolver questões no tribunal, mas também para o exercício contínuo de um governo justo. Autoridade justa age sempre a partir de assessoramento que lhe permita ouvir as legítimas aspirações e reivindicações do povo. Em outras palavras, a verdadeira função da autoridade é servir ao povo, que pertence a Deus.
Oração: Deus, nosso Pai, nós Te bendizemos pelo teu servidor, o rei Salomão, nos dias da sua fidelidade para contigo. Estiveste atento à sua oração e escutaste-o.
Com o rei Salomão, nós Te pedimos pelos dirigentes das nações e das Igrejas: dá-lhes um coração atento, para que conduzam os povos e as comunidades segundo o teu Espírito e saibam discernir o bem do mal.
Mateus 13,44-52: Discernimento e opção pelo Reino.
No Evangelho, recorrendo à linguagem das parábolas, Jesus recomenda aos seus seguidores que façam do Reino de Deus a sua prioridade fundamental. Todos os outros valores e interesses devem passar para segundo plano, face a esse “tesouro” supremo que é o Reino.
44-46: Para entrar no Reino é necessária decisão total. Apegar-se a segurança, mesmo religiosas, que são falsas ou puras imitações, em troca da justiça do Reino, é preferir bijuterias a uma pedra preciosa. 47-50: A consumação do Reino se realiza através do julgamento que separa os bons dos maus. Os que vivem a justiça anunciada por Jesus tomarão parte definitiva no Reino; os que não vivem serão excluídos para sempre. É preciso decidir desde já. 51-52: As parábolas revelam o segredo de Deus para aqueles que têm fé. Por isso, o doutor da Lei que se torna discípulo de Jesus é capaz de ver a ligação entre o Antigo e o Novo Testamento. Em Jesus tudo se renova e toma novo sentido.
Oração: Nós Te bendizemos pelo Reino dos céus que estabeleceste no coração do nosso mundo como um tesouro escondido e como um laço que nos conduz a Ti.
Nós Te pedimos: dá aos teus fiéis a coragem de procurar em toda a parte o tesouro da tua presença escondida, para aí encontrar a riqueza do teu amor.
Romanos 8,28-30 : Filhos no Filho, destinados à glória.
A segunda leitura convida-nos a seguir o caminho e a proposta de Jesus. Esse é o valor mais alto, que deve sobrepor-se a todos os outros valores e propostas.
O projeto eterno de Deus é predestinar, chamar, tornar justo e glorificar a cada um e a todos os homens, fazendo com que todos se tornem imagem do seu Filho e se reúnam como a grande família de Deus. O projeto não exclui ninguém. Mas o homem é livre: pode aceitar ou recusar tal projeto, pode escolher a vida ou a morte, salvar-se ou condenar-se.
Oração: Nós Te damos graças pelo desígnio do teu amor e pelo teu filho Jesus, que estabeleceste no meio de nós como primogénito de uma multidão de irmãos.
Nós Te pedimos: Tu que imprimes em nós a imagem do teu Filho, faz que o teu Espírito nos transforme à sua semelhança.
Mensagem: É possível resumir os textos de hoje na frase: o discernimento e opção pelo Reino. Ele já está em nosso meio com realidade que ilumina e transforma as relações humanas e sociais. O Reino se constrói à medida que formos filhos no Filho; à medida que empenharmos a vida por ele.