Humilde e obediente até a morte de cruz
A liturgia deste último domingo da Quaresma convida-nos a contemplar esse Deus que, por amor, desceu ao nosso encontro, partilhou a nossa humanidade, fez-Se servo dos homens, deixou-Se matar para que o egoísmo e o pecado fossem vencidos. A cruz (que a liturgia deste domingo coloca no horizonte próximo de Jesus) apresenta-nos a lição suprema, o último passo desse caminho de vida nova que, em Jesus, Deus nos propõe: a doação da vida por amor.
As leituras de hoje destacam a humildade como fundamento da obediência. Ser humilde é despojar-se do orgulho. É tornar-se uma pessoa integrada, que sabe lidar com todas as coisas e situações de forma harmoniosa. O orgulho desarmoniza, faz pessoas, idéias, objetos e situações ocuparem o lugar de Deus na vida do ser humano, tornando-o escravo de um ídolo. A palavra “obediente”, nos idiomas mais antigos, significa “prestar atenção”, “dar ouvidos”. A obediência de Jesus ao Pai significa, antes de tudo, que Jesus levou ao cumprimento pleno o projeto de amor de Deus para com o ser humano. Nem mesmo nos tornamos difíceis ele voltou atrás no que ensinou e no que mostrou na própria vida a respeito de Deus e de seu reino de fraternidade universal. Nem mesmo a tortura da cruz o fez desistir de mostrar às pessoas a quem é o Pai e qual a proposta dele ao ser humano. É nesse sentido que a cruz de Jesus é sinal de humildade e obediência.
Isaias 50,4-7 – Terceiro Canto do servo de Javé; paciência e confiança –
A primeira leitura apresenta-nos um profeta anónimo, chamado por Deus a testemunhar no meio das nações a Palavra da salvação. Apesar do sofrimento e da perseguição, o profeta confiou em Deus e concretizou, com teimosa fidelidade, os projetos de Deus. Os primeiros cristãos viram neste “servo” a figura de Jesus.
O primeiro Canto do Servo fala da vocação (Is 42; Batismo do Senhor); o segundo Canto mostra a dificuldade de sua missão (Is 49,1-6); o terceiro Canto (hoje) descreve o Servo como sendo o perfeito discípulo, profeta fiel, que não teme oposição e perseguição, pois está do lado de Deus (Fl 2,6-11).
Filipenses 2,6-11- O despojamento de Jesus Cristo por nós e sua exaltação –
A segunda leitura apresenta-nos o exemplo de Cristo. Ele não aceita o orgulho e a arrogância, para escolher a obediência ao Pai e o serviço aos homens, até ao dom da vida. É esse mesmo caminho de vida que a Palavra de Deus nos propõe.
O filho de Deus se tornou servo, obediente à vontade do Pai e exposto aos poderes deste mundo. No serviço fiel até a morte da cruz, mostrou sua grandeza. Por isso, Deus o glorificou e o tornou “Senhor”. – 2,6-8.
Mateus 26,14-27,66 – A vitória do Mestre da justiça.
O Evangelho convida-nos a contemplar a paixão e morte de Jesus: é o momento supremo de uma vida feita dom e serviço, a fim de libertar os homens de tudo aquilo que gera egoísmo e escravidão. Na cruz, revela-se o amor de Deus – esse amor que não guarda nada para si, mas que se faz dom total.
A narração da Paixão constitui o centro do plano de Deus, que quer que de Jerusalém saia a salvação para o mundo inteiro. Gólgota é o centro do mundo e a morte de Jesus o centro do templo, no projeto da salvação.
Evitar falar a Paixão de Cristo como se esta fizesse parte de um plano sádico de Deus Pai com o objetivo de lavar os pecados da humanidade. Deus é amor infinito e não teria sentido esse tipo de atitude para com seu próprio Filho. Também evitar culpar grupos judaicos ou o império romano pelo acontecido temporal. Ao contrário, ressaltar que, na condenação de Jesus, se manifesta o orgulho de todo ser humano.
Pensemos durante essa semana