O tema central da liturgia deste domingo convida-nos a refletir sobre esta questão: aquilo que nos enche o coração e que nós testemunhamos é a verdade de Jesus, ou são os nossos interesses e os nossos critérios egoístas?
O Evangelho dá-nos os critérios para discernir o verdadeiro do falso “mestre”: o verdadeiro “mestre” é aquele que apenas apresenta a proposta de Jesus gerando, com o seu testemunho, comunhão, união, fraternidade, amor; o falso “mestre”, ao contrário, é aquele que manifesta intolerância, hipocrisia, autoritarismo e cujo testemunho gera divisões e confusões: o seu anúncio não tem nada a ver com o de Jesus.
A primeira leitura, na mesma linha, dá um conselho muito prático, mas muito útil: não julguemos as pessoas pela primeira impressão ou por atitudes mais ou menos teatrais: deixemo-las falar, pois as palavras revelam a verdade ou a mentira que há em cada coração.
A segunda leitura não tem, aparentemente, muito a ver com esta temática: é a conclusão da catequese de Paulo aos coríntios sobre a ressurreição. No entanto, podemos dizer que viver e testemunhar com verdade, sinceridade e coerência a proposta de Jesus é o caminho necessário para essa vida plena que Deus nos reserva. Do nosso anúncio sincero de Jesus, nasce essa comunidade de Homens Novos que é anúncio do tempo escatológico e da vida que nos espera.
Eclesiástico 27, 4-7 – Como desmascarar os discursos das “velhas raposas”. A palavra é espelho da pessoa. Por isso, é melhor pensar bem antes de falar, e quando não se sabe o que dizer, é melhor ficar calado.
O texto que a liturgia de hoje nos propõe é um exemplo clássico da reflexão sapiencial. Apresenta-nos uma máxima que, como todas as máximas da reflexão sapiencial, é deduzida da experiência prática e da própria reflexão (“não elogies ninguém antes de ele falar”); o fim desta máxima é orientar o comportamento do homem, preservando-o do insucesso, do fracasso, dos comportamentos e dos juízos errados.
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 91 (92)
É bom louvar-vos, Senhor, e cantar salmos ao vosso nome.
1 Coríntios 15, 54-58- Ressurreição de Cristo triunfo da vida sobre tudo o que alimenta a morte o que alimenta a morte em nossa sociedade. Depois que Cristo ressuscitou, nenhum tipo de morte terá a vitória final. Essa vitória de Cristo sobre a morte é também vitória contra o pecado, que introduz e alimenta a morte no mundo, e contra a lei, que mostra o que é pecado, mas não dá forças para vencê-lo. Quem acredita em Jesus ressuscitado pode cantar desde já o triunfo da vida.
A ressurreição de Cristo garante-nos que o nosso Deus é o Senhor da vida. Assim, percorremos o nosso caminho neste mundo com total serenidade e confiança: sabemos que Deus está ao nosso lado sempre, vigiando – como uma mãe que cuida do seu bebê; e que, quando chegar a última fronteira, o nosso último fechar de olhos, a nossa saída deste mundo ou entrada no outro, também então podemos estar tranquilos, porque o nosso Deus/mãe continua vigilante. Ele é o Deus da vida, que nos garante a plenitude da vida.
Lucas 6, 39-45- Os atos mostram quem são as pessoas – Lucas salienta que as relações numa sociedade nova não devem ser de julgamento e condenação, mas de perdão e dom. Só Deus pode julgar. Assim como as árvores são conhecidas pelos frutos, do mesmo modo os homens são conhecidos pelos seus atos.
Continuamos ainda no ambiente do “discurso da planície”, onde Jesus apresenta os elementos fundamentais da existência cristã.
Provavelmente, Lucas concentrou aqui um conjunto de frases ou de ditos de Jesus que, originalmente, tinham um contexto diverso e foram pronunciados em alturas diversas. A unidade temática do nosso texto ressente-se, pois, desse facto.
Apesar disso, pode perceber-se que Lucas está preocupado com os “falsos mestres”. O texto de hoje começa com um provérbio (“poderá um cego guiar outro cego?” – vers. 39) que Mateus coloca num contexto completamente diferente do de Lucas: enquanto que em Mateus (cf. Mt 15,14) ele aparece num contexto de crítica aos fariseus, aqui é uma advertência contra os falsos mestres na comunidade cristã. Provavelmente, Lucas quer pôr a comunidade de sobreaviso em relação a esses mestres pouco ortodoxos que, na década de 80, começam a aparecer nas comunidades e cujas doutrinas apresentam desvios sérios em relação ao essencial da mensagem de Jesus Cristo.