A Nova Sociedade Nasce dos Pobres
Os caminhos de Deus são bem diferentes dos nossos. Nós sempre achamos que o que é grande e forte há de vencer. Deus não. Ele prefere trabalhar com um povo pequeno e humilhado. Pois os poderosos são auto-suficientes e não querem entender o que Deus deseja. Para os poderosos, Deus atrapalha. Com o pobre resto de Israel, depois das deportações, ele faz mais do que com o povo próspero que, no seu auge, pactuava com os egípcios e os assírios, até eles o engolirem. Pois a atuação de Deus situa-se num outro nível: concerne à retidão do coração, e aí, o poder não tem força. Por isso, os pobres de Javé serão felizes. Esta é a mensagem da leitura de Sofonias. Deus não se deixa pressionar pelo poder do mais forte. Se os outros não o fazem, ele cuida dos pobres e dos fracos e lhes faz justiça.
A Salvação é anunciada aos pobres e humildes
O profeta Sofonias afirma que Deus dispersará os soberbos e deixará “um resto” (os remanescentes) de Israel, composto de gente humilde e pobre. Para esses remanescentes, Jesus veio trazer a salvação. Por isso, o “sermão da montanha” abre com o anúncio: “bem-aventurados os pobres em espírito” (Mt 5,3). E, já que esse “resto” vive da esperança nos bens eternos, é exatamente esses bens que lhe são prometidos: Deus, seu reino, sua misericórdia e a fidelidade eterna. Os que se gloriam em si mesmos já estão repletos dos “valores” contrários ao Reino e não deixam espaço para Deus.
Sofonias 2,3; 3,12-13: O pequeno e humilde resto de Israel é portador da Salvação – Depois de um oráculo de ameaça, o profeta dirige-se aos piedosos. Eles vivem conforme o direito estabelecido por Deus, não conforme a auto-suficiência de sua própria força. Por isso, são chamados de humildes (=pequenos, fracos). Com esta atitude se pode – talvez, diz o profeta – escapar da catástrofe. A este povo pobre e humilde, o profeta anuncia esperança.
Mateus 5,1-12: As bem-aventuranças – Elas têm a forma de congratulações, mas incluem um programa de vida. A bênção de Deus é dom e missão. Em Mt, as bem-aventuranças indicam sobretudo como o homem deve ser, diante de Deus, para receber o seu Reino como graça, procurando realizar sua vontade (= justiça). Em Lucas 6,20-23, indicam antes que Deus dirige seu chamamento a grupos ou classes humildes. Mas esta diferença entre ambos os evangelistas é só uma questão de acento.
1 Coríntios: Deus escolhem o que é fraco – Os coríntios olham demais para critérios humano (daí sua divisão). Paulo insiste em proclamar-lhes o que não é sabedoria humana. A prova é “ad hominem”: quantos dos chamados são notáveis ou intelectuais? Dá-se com o novo povo de Deus o que se deu com o antigo: Deus o cria do nada, prefere o fraco ao forte: assim, ninguém pode gloriar-se de suas forças.
A mensagem destas leituras não pode, portanto, ser restringida a um mero evidenciar da situação de pobreza. Há mais. A situação de pobreza ( da pobreza assumida de coração) é a situação privilegiada para reconhecer a justiça de Deus. Riqueza e poder tornam cego. Desejo de riqueza, no pobre, também… Mas quem vive a situação de pobreza como uma procura da justiça de Deus, este tem chances de a encontrar. Por isso, os pobres são o sacramento da justiça de Deus.