Reconhecer e testemunhar o Cristo ressuscitado
Só pode reconhecer o Senhor quem percorreu o caminho dos problemas do homem, deles participando plenamente o fracasso, a solidão, a busca da justiça e verdade, a coerência em direção a um mundo melhor, a solidariedade. Então o Cristo, anônimo e misterioso companheiro, testemunha e interlocutor das hesitações e dúvidas, revela-se como alguém que, tendo aceito entrar no projeto de Deus, tornou-se o primogênito de nova humanidade.
Como os discípulos de Emaús, desanimados e desiludidos, céticos e desconfiados, o mundo de hoje reconhece Cristo quando os cristãos sabem verdadeiramente “partir o pão”. Como cristãos, partilhar outro pão eucarístico implica partilhar pão, um compromisso de justiça, de solidariedade, de defesa daqueles cujo pão é roubado pelas injustiças dos homens e dos sistemas sociais errados.
Atos 2,14.22-33 – O Espírito faz nascer o testemunho de Jesus ressuscitado. Pedro apresenta o anúncio fundamental da Igreja. Mantendo a memória do testemunho de Jesus, a Igreja relê o Antigo Testamento e percebe o mistério central da vida, morte e ressurreição de Jesus: Jesus de Nazaré realizou entre os homens a ação de Deus voltada para a justiça e a vida, e foi morto pela estrutura injusta de uma sociedade que gera a morte. Deus, porém, condena essa estrutura, pois ressuscita Jesus e o torna Senhor do universo e da história. Recebendo o Espírito que dirigiu toda a missão de Jesus, a Igreja se torna testemunha da sua ressurreição. O anúncio é ao mesmo tempo a denúncia e o julgamento de toda estrutura injusta, sempre causadora de morte.
Lucas 24-13-35 – Onde e como experimentar o Cristo vivo? Lucas salienta os «lugares» da presença de Jesus ressuscitado. Primeiro, ele continua a caminhar entre os homens, solidarizando-se com seus problemas e participando de suas lutas. Segundo, Jesus está presente no anúncio da Palavra das Escrituras, que mostra o sentido da sua vida e ação. Terceiro, na celebração eucarística, onde o pão repartido relembra o dom da sua vida e refontiza a partilha e a fraternidade, que estão no cerne do seu projeto.
1 Pedro 17-21 – Testemunhar em meio aos conflitos. O clima da vida cristã é apresentado aqui como permanente conversão: de escravos do mundo e das paixões, os cristãos foram libertos por Cristo para serem filhos de Deus, que se reúnem formando nova família. Para os que vivem num ambiente onde são discriminados, humilhados e até perseguidos, essa é a base fundamental para que eles se sintam em casa e possam enfrentar o clima hostil.